Aerominas: Aerominas tem acesso a reportagem polêmica

sábado, março 31, 2007

Aerominas tem acesso a reportagem polêmica


O Aerominas teve acesso a um estudo publicado pela Agência Estado em 13/12/2000 e de autoria de uma viúva do vôo 402 da TAM em 31/10/1996.

O teor deste texto é assustador : revela em detalhes toda a rotina que controladores de vôo suportam em seu dia-a-dia e faz uma previsão certeira de que o colapso do sistema poderia ocorrer em pouco tempo.

Controle de vôo:profissão perigo

O tráfego aéreo no Estado de São Paulo está à beira de um colapso. A tecnologia atual é cheia de falhas, e as normas internacionais de segurança são desrespeitadas diariamente.
As condições de trabalho destroem a saúde dos controladores de vôo, aumentando ainda mais os riscos de acidentes.
Este quadro assustador é pintado pela pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Rita de Cássia Seixas Sampaio Araújo, de 44 anos, e confirmado por controladores de vôo ouvidos pelo JT.
Segundo ela, os aeroportos de São Paulo passam diariamente por situações de extremo risco, que são escondidas da opinião pública.
"Se nada for feito, o sistema atual deve entrar em colapso em, no máximo, três anos", aponta.
Nas atuais condições, segundo a pesquisasora, já seria de se esperar a ocorrência de um grande acidente aéreo por semana.
"Isso só não acontece, ainda, devido aos controladores de vôo, que se desdobram para trabalhar em condições que acabam com a sua saúde", diz.
A saúde dos controladores de vôo é o tema da tese de mestrado de Rita, aprovada anteontem na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Durante três anos, ela pesquisou o centro de controle de aproximação (APP) de São Paulo, situado no aeroporto de Congonhas e responsável pelo tráfego entre os aeroportos da terminal São Paulo.
Essa área engloba aeroportos como os de Cumbica, Guarulhos, Viracopos, Campo de Marte, Sorocaba, Santos, entre outros.
Fora do aceitável Os controladores locais têm a maior carga de trabalho do País, já que no terminal APP ocorrem diariamente 2 mil pousos e decolagens, cerca de 60% do tráfego aéreo nacional.
Ali, Rita descobriu que a carga de trabalho dos controladores vai muito além do que as normas internacionais consideram aceitável.
Pelas regras da Organização da Aviação Civil Internacional, nenhum controlador pode ficar responsável por mais de 6 aeronaves na tela do radar.
"Nos horários de pico, eles controlam até 15" conta Rita. Além disso, a distância mínima entre aeronaves no ar não vem sendo respeitada, aumentando o risco de colisões.
"Enquanto o recomendado é uma distância de 5 milhas, em São Paulo ela chega a 2 milhas."
Na APP São Paulo trabalham 96 controladores, mas deveriam ser, pelo menos, 120. O problema do baixo efetivo, segundo números fornecidos pela pesquisadora, é generalizado.
Nos últimos oito anos, o tráfego aéreo vem aumentando a uma média anual de 8%, sendo que, de 1998 para 1999, subiu 20,7%.
Enquanto isso, o número de controladores diminuiu 3% nos últimos oito anos, em todo o país.
Hoje, há 2.300 controladores no País. Para fugir aos baixos salários, a maioria trabalha em um segundo emprego , o que piora ainda mais as condições de estresse.
"Nós todos estamos doentes, e isso tem conseqüências no nosso trabalho", desabafa o suboficial (o equivalente a subtenente no Exército) Mário Celso Rodrigues, chefe de equipe no APP São Paulo e presidente da recém-fundada Associação dos Controladores de Tráfego Aéreo do Estado de São Paulo.
"Houve um aumento absurdo no tráfego aéreo em São Paulo, sem um investimento tecnológico e humano que atendesse à demanda", afirma.
Entre as falhas técnicas mais graves, ele cita a manutenção dos radares, que considera inadequada.
"Por causa disso, os radares falham, e isso é inadmissível", diz. Rodrigues tem uma explicação pessoal para a falta de investimentos.
Ele lembra que o Brasil está se preparando para entrar num novo sistema computadorizado de controle aéreo, o CNS/ATM, a ser implantado mundialmente em 2010, e que permitirá aos aviões "voarem quase sozinhos".
"Penso que a aviação brasileira está tão preocupada em se adaptar ao novo sistema que deixou de lado o sistema atual", afirma.

Aeronáutica é uma caixa-preta

A pesquisadora Rita de Cássia Seixas Sampaio Araújo teve um motivo muito forte para se interessar por segurança aérea.
Seu marido, Flávio de Araújo Filho, então com 40 anos, era um dos passageiros mortos com a queda do Fokker 100 da TAM, em 31 de outubro de 1996.
Mas sua pesquisa, faz questão de ressaltar, vai além das motivações pessoais: "Pesquiso saúde de trabalho há dez anos."
Uma das diretoras da associação de vítimas do acidente, Rita ficou indignada com o relatório oficial sobre o acidente, que atribuiu a queda do avião a erros do piloto.
"O sistema sempre prefere culpar uma pessoa, em vez de reconhecer suas falhas", afirma. O controle da Aeronáutica, com sua estrutura militarizada, sobre a aviação, é o grande problema apontado pela pesquisadora.
"A Aeronáutica é uma caixa-preta", afirma. "A sociedade não sabe os riscos que ocorrem no tráfego aéreo, e os próprios funcionários, por causa da burocracia, têm dificuldade de solucionar os problemas."
O controlador de vôo Sueyoshi Sasaki, de 41 anos, também reclama da burocracia. Ele descreve o trajeto de uma reclamação:
"A queixa de um controlador tem de ser levada ao chefe da equipe, que passa ao adjunto do órgão, que apresenta ao chefe do órgão, que repassa ao chefe do destacamento, para só aí chegar ao comando.
Isso, se não se perder no caminho." Procurado pela reportagem, o superintendente do Serviço Regional de Proteção ao Vôo, coronel Ricardo Nogueira, não se manifestou.
A vida Sasaki é um exemplo dos problemas enfrentados pelos controladores de vôo. Ele começou a trabalhar em 1986, monitorando os vôos em Congonhas.
Após nove anos de estresse, ficou hipertenso e teve a uma trombose cerebral. Afastado dos radares, passou a gerenciar os horários de vôos.
"Tive de custear meu próprio tratamento", conta. Embora a Aeronáutica exija dos controladores uma bateria de exames médicos anuais, ela não se responsabiliza por nenhuma das doenças detectadas em controladores civis.
Os militares, que contam com o atendimento médico da Aeronáutica, também são vítimas dos mesmos problemas.
"Além de problemas de estômago, o trabalho me trouxe desequilíbrio emocional e dificuldades de relacionamento", confessa o suboficial Mário Celso Rodrigues.
O salário médio de um controlador é de R$ 1.400, contra os US$ 7 mil dos controladores americanos. "Ser controlador de vôo no Brasil é coisa de super-herói", resume Sasaki.

Redação Agencia Estado